domingo, 5 de abril de 2009

“La Nonna”
Foi com esta peça levada à cena, no dia 17 de Janeiro, pelas 21h30, no Teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, integrada nas comemorações dos seus 105 anos, que o elo das representações ininterruptas da nossa associação não foi quebrado, desde a sua fundação em 1904.

A peça La Nonna é mais uma aposta da nossa secção dramática, e a expectativa foi grande, até à estreia, pois trata-se do trabalho mais famoso do autor argentino Roberto Cossa.

Sinopse
Uma família de raízes italianas, numa qualquer cidade que pode muito bem ser a Figueira da Foz, ou até, porque não, Tavarede, confrontada com a miséria e culpa a sua avó centenária pelo facto dela comer desmesuradamente. A avó, a Nonninha, fala uma mistura hilariante de italiano e de português, mas é fácil de compreender, pois cada palavra é sobre comida e não faz mais nada a não ser comer. Os esforços da sua família para evitar a ruína transformam-se em esquemas com vista a livrarem-se da Nonna. Mas as qualidades de uma luta pela sobrevivência prevalecem e acaba por ser um outro membro da família a ficar apanhado em cada armadilha que engendra e empreende. O escasso espólio que a família possui acaba por ser vendido ou penhorado, mas a Nonna ainda assim persiste na sua voracidade.

O senhor Agostinho! Não quero deixar cair no esquecimento o meu personagem, o senhor Agostinho. Que é um velhinho com cerca de 80 anos, que em tempos passados esteve apaixonado pela Lúcia, filha da Nonna, mas que esta tratou de acabar com eventuais desejos. Agora aparece com a intenção de casar com a bisneta Vanessa, mas propõem-lhe “quase obrigado” a ficar com a “Nonna”, a avó que devora tudo, pelo que a família faz os possíveis e impossíveis para se desfazer dela. O senhor Agostinho perde o pouco que tem e até o juízo, com a convicção que vai arranjar fortuna na cidade de Catanzaro, na Itália, onde supostamente a sua Nonna tem uma fortuna. Até as três mulheres que se cruzam na sua vida: a mãe, a filha e a neta, acaba também por as perder… Pobre senhor Agostinho… Catanzaro… Catanzaro… Catanzaro…

O texto é extraordinário e desenrola-se num ritmo cénico estonteante, em que o suspense prende do primeiro ao último minuto do espectáculo os espectadores e os actores que compõem este ELENCO:
EUSÉBIO – António Barbosa, o Tónis;
MARIA – Carla Fonseca;
CHICO – Fernando Romeiro;
NONNA – Helena Rodrigues;
SENHOR AGOSTINHO – José Manuel Cordeiro, que sou eu;
LÚCIA – Manuela Mendes;
VANESSA – Raquel Rodrigues.

A Encenação é da responsabilidade de:
- Ilda Simões – aquela que nos diz para ir à Merda antes de começar a representação.
A Caracterização, ela pinta, pincela, espaneja, risca, cola pêlos e tira pêlos, inventa uma verruga, imagina uma cicatriz, põe bigode, põe pêra, ajeita a sobrancelha, esborrata os beiços, e põe-nos velhos (a mim) e põe-nos novos e lindos e feios e…
E o Ponto, que ponto a ponto, vírgula a vírgula, nos vai “soprando” os papéis sem falhas, facto que nos alivia a alma e descansa os sentidos, ufaaa… se não fosse ela…
- Otília Medina – a Lita, a nossa (minha) salvação!!!!
A Luz, ele faz o desenho de luz das cenas, tira e mete projectores e afins, muda-lhes a cor, troca uma lâmpada que se funde, acarta e desarruma todo o material eléctrico necessário, mas nunca mais o arruma, também não é essa a missão dele…Só não dá é à “luz”!
E o Som, e que som… põe alto, põe baixo, grava ali, corta acolá, usa cassetes, cd’s, dvd’s, mini-disc, disquetes… e que música! Agora é música italiana… depois logo se verá… ele é o
- Nuno Pinto – o Nuninho.
A Cenografia ficaram com a responsabilidade os:
- José Manuel Cordeiro – que sou eu… que cena meu… pensei num cenário para podermos representar em salas sem condições para fazer teatro. O resultado não foi aquele que queria, pois por vezes faltam condições materiais e mais importante ainda é a falta de tempo para se poder experimentar outras soluções… Mesmo assim, com este cenário já fomos representar num palco que não tinha o mínimo de condições. Qual foi a solução? Inventou-se outro cenário!
- José Alberto Cardoso – o tal carpinteiro de Brenha que nos veio ajudar e muito! É ele que nos tem feito todo o trabalho de carpinteiro de cena!
A Montagem de Cena os:
- José Alberto Cardoso, aqui está ele novamente, o tal de Brenha.
- José Maltez, o nosso carpinteiro-mor, aquele que serviu a SIT, tal como penso que deve ser um sócio, sempre ali, lá e acolá, seja onde for. Sempre a saber onde está tudo. Agora está um bocado esquecido. Agora já não tem aquela agilidade, aquela actividade, mas é sempre um incentivo, um exemplo vê-lo. Sempre aquela vontade de fazer, de estar presente. E depois qual a admiração? O Ti Zé Maltez também tem direito a descanso! Ou não se lembram de que ele está reformado?


Sobre o Autor
Roberto Cossa, um dos dramaturgos chave da literatura argentina, nasceu o 30 de Novembro de 1934 no Bairro Villa del Parque, em Buenos Aires. Começou a actuar aos 17 anos num teatro em San Isidro, mas cedo abandonou a representação, e em lugar disso desenvolveu uma extensa obra como dramaturgo e crítico de teatro.
Descreve-se como actor frustrado: “Muitas vezes perguntei-me que me aconteceu a mim com a actuação. Acho que não me sentia seguro, e não tive a intuição ou a lucidez de me por a estudar” – diz o autor. Como jornalista, passou por Clarín, O Cronista Comercial e A opinião. Correspondente clandestino durante dez anos do Prensa Latina, a agência de notícias cubana. O próprio define-se como socialista e admirador da Revolução Cubana.
A realidade social e a história política da Argentina marca presença constante na sua obra. “Poucos autores tem alcançado tão perfeito grau de lucidez na interpretação da realidade social e no comportamento da classe média como Roberto Cossa” – diz Osvaldo Soriano, no prólogo de Teatro/1, o primeiro volume das obras completas de Cossa.
De entre elas destaca-se uma obra-mestra: "El viejo criado" (1980). “Toda a miséria argentina está ali: o autoritarismo, a mentira, a cegueira histórica, a estupidez, a ignorância, a prostituição dos valores éticos e morais. Com uma lucidez implacável, através de um bela metáfora, Cossa passa revista à Argentina do último quartel do século XX e mostra o fim e passividade que incumbe o germe da tragédia hoje.” Cossa é o autor de outras obras de grande êxito como La Nona (1977), Gris de ausencia (1981), Yepeto (1987), várias delas levadas ao cinema.
Impôs-se desde a sua primeira peça, em 1964, representando a classe média argentina à procura da felicidade feita simplesmente de alegrias quotidianas. Ele encarna as frustrações de uma sociedade sem êxito e em busca da sua identidade. Toda essa plebe de classes médias baixas que continuam a acreditar em dias melhores. Cossa conhece-os e ama-os, essas pessoas do seu bairro, filhos dos emigrantes italianos, como ele, mas também os argentinos de origem. O que os faz mover, os seus sonhos, as suas ambições, as suas ilusões, é também a força das peças de Roberto Cossa.

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