Nasci em Abril!
E há 38 anos… estava a decorrer o ano de 1972, comemorei no dia 13 de Abril, tal como este ano, um dos meus aniversários. Ainda era um estudante. No
s corredores da minha escola falava-se em surdina, em grupos não muito grandes pois os empregados (contínuos) da altura tratavam de nos dispersar e não sabíamos porquê. Se estávamos na rua em grupo era quase certo sermos perseguidos pela polícia que nos fazia perguntas e que muitas vezes não entendíamos... Por vezes passavam pelas nossas mãos panfletos que tínhamos logo de esconder para ler mais tarde e não percebíamos porquê. E ouvíamos (ouvi) falar de liberdade e não sabíamos (não sabia) o seu significado…
Nunca estive ligado a nenhum movimento estudantil, mas recordo-me que "já se falava que algo estava para acontecer", isto em 1972.
Não pretendo nestas poucas linhas, procurar fazer alguma História, apenas e só escrever um capítulo da minha história.
Vai comemora-se mais um 25 de Abril, que aconteceu por causa da ausência de uma solução política para a resolução de um problema que deveria passar pelo fim da guerra colonial e que já era mais que uma certeza. Durante 13 longos anos foi sustentada uma guerra, onde perderam a vida, ficaram feridos ou estropiados milhares de jovens portugueses.
Não pretendo nestas poucas linhas, procurar fazer alguma História, apenas e só escrever um capítulo da minha história.
Vai comemora-se mais um 25 de Abril, que aconteceu por causa da ausência de uma solução política para a resolução de um problema que deveria passar pelo fim da guerra colonial e que já era mais que uma certeza. Durante 13 longos anos foi sustentada uma guerra, onde perderam a vida, ficaram feridos ou estropiados milhares de jovens portugueses.
Era eu ainda um jovem estudante mas já com o futuro definido: ser militar.
Fui então a uma inspecção militar, num quartel do exército na Figueira da Foz onde me consideraram “apto para todo o serviço militar”. Passados poucos dias fui chamado para outra inspecção, agora como voluntário na Força Aérea Portuguesa (FAP), a qual decorreu em Lisboa, onde me informaram que também estava “apto para todo o serviço militar”.
Consta na minha Caderneta Militar que, “o resultado da inspecção sanitária da junta de recrutamento é – Apto para todo o Serviço Aeronáutico – alistado e incorporado em 21 de Junho de 1972”.
E assim comecei mais um Abril dos meus.
Fui então a uma inspecção militar, num quartel do exército na Figueira da Foz onde me consideraram “apto para todo o serviço militar”. Passados poucos dias fui chamado para outra inspecção, agora como voluntário na Força Aérea Portuguesa (FAP), a qual decorreu em Lisboa, onde me informaram que também estava “apto para todo o serviço militar”.
Consta na minha Caderneta Militar que, “o resultado da inspecção sanitária da junta de recrutamento é – Apto para todo o Serviço Aeronáutico – alistado e incorporado em 21 de Junho de 1972”.
E assim comecei mais um Abril dos meus.
Comemoro mais um dos meus aniversários hoje dia 13 de Abril de 2010, 12 dias antes de outro 25 de Abril.
Há 36 anos estava eu a cumprir o meu serviço militar na Base Aérea Nº 5 de Monte Real, e tinha à minha responsabilidade a manutenção e operacionalidade dos Simuladores de Voo. No final do dia 24, apanhei o autocarro militar que me transportou até à Figueira como todos os dias acontecia.
Passaram 36 anos, mas o dia mantém-se ainda fresco na minha memória.
Fui acordado cerca das 8H30 da manhã do dia 25, pela minha mãe dando-me a notícia que havia uma revolução, que eu tinha adormecido e a hora do autocarro para a Base já tinha passado. Ainda mal acordado perguntei à minha mãe o que é que ela queria dizer com revolução? Ela também não me soube explicar!
Com alguma curiosidade, agarrei na minha bicicleta (naquela tempo não havia dinheiro para comprar carro) e dirigi-me para a Figueira até à Fonte Luminosa, em frente à Câmara. O que vi não me agradou muito, visto que eu era militar e devia já estar na minha unidade. Tanta gente! Parece que toda a Figueira se tinha deslocado para ali. Então comecei a ficar preocupado.
Regressei a casa e de imediato me fardei, e fui para a estação do caminho-de-ferro, tendo o cuidado de não passar por grandes aglomerados de pessoas.
Cheguei à estação de Monte Real e não tendo encontrado nenhum meio de transporte, não tive outro remédio se não ir a pé. Felizmente que perto do final da povoação, lá apareceu um autocarro militar que regressava de Leiria onde tinha ido levar os civis que trabalhavam na Base.
Ao entrar no aquartelamento deparei com grande alvoroço. Ainda não se sabia bem o que estava acontecer. Havia ainda dúvidas de que tudo aquilo fosse para a frente. Recebiam-se muitas informações contraditórias; havia tropas em movimento; tanques localizados em várias zonas de Lisboa; as rádios, diziam, estavam ocupadas; havia um comando que se dava pelo nome de MFA (Movimento das Forças Armadas); havia grande indefinição nas notícias.
Há 36 anos estava eu a cumprir o meu serviço militar na Base Aérea Nº 5 de Monte Real, e tinha à minha responsabilidade a manutenção e operacionalidade dos Simuladores de Voo. No final do dia 24, apanhei o autocarro militar que me transportou até à Figueira como todos os dias acontecia.
Passaram 36 anos, mas o dia mantém-se ainda fresco na minha memória.
Fui acordado cerca das 8H30 da manhã do dia 25, pela minha mãe dando-me a notícia que havia uma revolução, que eu tinha adormecido e a hora do autocarro para a Base já tinha passado. Ainda mal acordado perguntei à minha mãe o que é que ela queria dizer com revolução? Ela também não me soube explicar!
Com alguma curiosidade, agarrei na minha bicicleta (naquela tempo não havia dinheiro para comprar carro) e dirigi-me para a Figueira até à Fonte Luminosa, em frente à Câmara. O que vi não me agradou muito, visto que eu era militar e devia já estar na minha unidade. Tanta gente! Parece que toda a Figueira se tinha deslocado para ali. Então comecei a ficar preocupado.
Regressei a casa e de imediato me fardei, e fui para a estação do caminho-de-ferro, tendo o cuidado de não passar por grandes aglomerados de pessoas.
Cheguei à estação de Monte Real e não tendo encontrado nenhum meio de transporte, não tive outro remédio se não ir a pé. Felizmente que perto do final da povoação, lá apareceu um autocarro militar que regressava de Leiria onde tinha ido levar os civis que trabalhavam na Base.
Ao entrar no aquartelamento deparei com grande alvoroço. Ainda não se sabia bem o que estava acontecer. Havia ainda dúvidas de que tudo aquilo fosse para a frente. Recebiam-se muitas informações contraditórias; havia tropas em movimento; tanques localizados em várias zonas de Lisboa; as rádios, diziam, estavam ocupadas; havia um comando que se dava pelo nome de MFA (Movimento das Forças Armadas); havia grande indefinição nas notícias.
Não se sabia o que estava acontecer. Ninguém sabia o que estava a acontecer. Toda a gente na Base estava confusa. Soubemos entretanto que o comandante tinha sido deposto e estava detido no seu quarto no edifício dos oficiais. Dizia-se que havia um novo comando, outro comandante.
Então já lá pelo entardecer, todos os militares entraram de prevenção e deram ordem para que cada um fosse levantar uma arma, uma G3, com munições. Fui integrado num grupo para fazer guarda no fim da pista de aterragem. As armas estavam obrigatoriamente carregadas com as respectivas munições e a nossa missão, era não deixar entrar ninguém naquela zona, onde havia uma estrada que ligava Monte Real à Marinha Grande. Muitas pessoas passavam por ali de carro e com a curiosidade pelo que estava a acontecer (?), pelas incertezas que ainda pairavam, paravam tentando descobrir algo.
Era “engraçado”, se é que nestas condições se pode dizer, mas quando as pessoas saiam do carro, bastava que nos levantássemos do local onde estávamos meio escondidos pelo capim e de arma em punho, para as pessoas regressarem apressadamente ao interior das suas viaturas e irem-se embora.
O dia chegou ao fim. Apesar de todas as incertezas, pois não se sabia o que iria acontecer no dia de amanhã, havia também uma certa euforia.
Podem perguntar: Para que é toda esta conversa?
É que eu nunca tinha respondido à pergunta “onde estava no 25 de Abril de 1974?”
Então já lá pelo entardecer, todos os militares entraram de prevenção e deram ordem para que cada um fosse levantar uma arma, uma G3, com munições. Fui integrado num grupo para fazer guarda no fim da pista de aterragem. As armas estavam obrigatoriamente carregadas com as respectivas munições e a nossa missão, era não deixar entrar ninguém naquela zona, onde havia uma estrada que ligava Monte Real à Marinha Grande. Muitas pessoas passavam por ali de carro e com a curiosidade pelo que estava a acontecer (?), pelas incertezas que ainda pairavam, paravam tentando descobrir algo.
Era “engraçado”, se é que nestas condições se pode dizer, mas quando as pessoas saiam do carro, bastava que nos levantássemos do local onde estávamos meio escondidos pelo capim e de arma em punho, para as pessoas regressarem apressadamente ao interior das suas viaturas e irem-se embora.
O dia chegou ao fim. Apesar de todas as incertezas, pois não se sabia o que iria acontecer no dia de amanhã, havia também uma certa euforia.
Podem perguntar: Para que é toda esta conversa?
É que eu nunca tinha respondido à pergunta “onde estava no 25 de Abril de 1974?”
Quando regressei ao aquartelamento, depois da missão cumprida, pus-me a meditar sobre os esforços feitos e que ia ouvindo, pelas forças políticas da oposição para mudar o regime. Senti uma esperança de que o que estava acontecer poderia trazer-nos um futuro diferente e melhor. Tantas perguntas, tantas dúvidas, me estavam a assaltar.
Será que a guerra em África iria finalmente acabar? Esta era sem dúvida uma das grandes perguntas que eu, nós os jovens deste país faziam. Mas o tempo iria responder a todas as perguntas que se faziam neste momento ainda confuso. No decorrer das horas os planos traçados foram cumpridos, com o apoio do povo e com a vitória alcançada aconteceu enfim a liberdade.
O sonho finalmente aconteceu.
Senti ter acontecido também uma revolução dentro de mim.
Depois foi a Festa! Vivi como todos aquela Festa!
“As Vozes de Abril”, ouviam-se sem censura.
Aquelas vozes que durante bastantes anos, naqueles tempos difíceis, nunca se calaram. O Povo cantava em Liberdade com eles.
Foi muito bonito!
Gosto de viver em Democracia e em Paz.
O 25 de Abril de 1974, foi ainda há pouco tempo, no final do século XX.
Estamos ainda no princípio do novo século XXI, e já algumas questões me ferem o pensamento:
- Será que já estamos cansados do tempo (ainda tão curto) que passou desde 1974?
- Será que a História recente que se escreveu, já está esquecida?
A nossa geração (a minha geração) viveu aqueles acontecimentos. As gerações seguintes não viveram aqueles acontecimentos…
E nós não estamos a conseguir contar a estas gerações, às novas gerações, o que vivemos e o que sentimos. O que representaram todas aquelas vivências.
Temos a obrigação de avivar memórias.
Não podemos permitir que se apaguem e que nos apaguem a memória deste passado ainda tão presente.
Há 36 anos as “Portas de Abril” abriram-se de par em par…
Já 36 anos foram passados…
E daqueles ideais que nortearam Abril o que é que nos resta?
Será que o 25 de Abril de 1974 foi apenas um SONHO?
Para mim o 25 de Abril, será sempre!
Faço hoje anos!
Quero lembrar José Afonso com esta canção que vem mesmo a propósito:
Canção De Embalar
Dorme meu menino a estrela d’alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p’ra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d’alva o seu fulgor
Perde a estrela d’alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu’inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
Será que a guerra em África iria finalmente acabar? Esta era sem dúvida uma das grandes perguntas que eu, nós os jovens deste país faziam. Mas o tempo iria responder a todas as perguntas que se faziam neste momento ainda confuso. No decorrer das horas os planos traçados foram cumpridos, com o apoio do povo e com a vitória alcançada aconteceu enfim a liberdade.
O sonho finalmente aconteceu.
Senti ter acontecido também uma revolução dentro de mim.
Depois foi a Festa! Vivi como todos aquela Festa!
“As Vozes de Abril”, ouviam-se sem censura.
Aquelas vozes que durante bastantes anos, naqueles tempos difíceis, nunca se calaram. O Povo cantava em Liberdade com eles.
Foi muito bonito!
Gosto de viver em Democracia e em Paz.
O 25 de Abril de 1974, foi ainda há pouco tempo, no final do século XX.
Estamos ainda no princípio do novo século XXI, e já algumas questões me ferem o pensamento:
- Será que já estamos cansados do tempo (ainda tão curto) que passou desde 1974?
- Será que a História recente que se escreveu, já está esquecida?
A nossa geração (a minha geração) viveu aqueles acontecimentos. As gerações seguintes não viveram aqueles acontecimentos…
E nós não estamos a conseguir contar a estas gerações, às novas gerações, o que vivemos e o que sentimos. O que representaram todas aquelas vivências.
Temos a obrigação de avivar memórias.
Não podemos permitir que se apaguem e que nos apaguem a memória deste passado ainda tão presente.
Há 36 anos as “Portas de Abril” abriram-se de par em par…
Já 36 anos foram passados…
E daqueles ideais que nortearam Abril o que é que nos resta?
Será que o 25 de Abril de 1974 foi apenas um SONHO?
Para mim o 25 de Abril, será sempre!
Faço hoje anos!
Quero lembrar José Afonso com esta canção que vem mesmo a propósito:
Canção De Embalar
Dorme meu menino a estrela d’alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p’ra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d’alva o seu fulgor
Perde a estrela d’alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu’inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
Abril do Sr. José Oliveira
ResponderEliminarAbril do Roberto Carlos
Abril da Revolução dos Cravos,
Parabéns e vida longa a todos.
Devo concluir que, do "ser militar", lhe bastou a revolução dos cravos. Os militares, perderam um operador de simulador de vôos, e a sociedade civil ganhou um Educador. Os civis sairam ganhando, assim espero que tenha sido.
Muita... saúde, alegria e paz, e que muitos outros meses de abril venham e lhe encontre sempre assim.
Um grande abraço,
severino coutinho
É com muita satisfação que recebi este seu comentário, contendo a mensagem de esperança para um futuro cheio de “Abris”. Julgo já ter passado mais uma vez por este ponto de encontro e como já verificou já tive mais um Abril. Foi a comemoração do 1º Aniversário do meu netinho, no dia 22 de Abril. É por ele e por toda a geração que será também o nosso futuro que sinto o meu papel de educador ainda muito importante.
ResponderEliminarOutra data de Abril acho importante referir, e esta penso ser comum a nós os dois e aos nossos dois países irmãos. E transcrevo uma frase de um livro sobre a história dos nossos povos: “No entardecer do dia 22 de Abril, ancorou em frente a um monte, baptizado de Pascoal, no magnífico cenário do litoral Sul do actual estado de Bahia.”
Estou a referir-me como sabe ao Achamento do Brasil, em 1500, por Pedro Álvares Cabral.
O meu desejo de um grande futuro para os nossos dois países.
Também lhe desejo muitos outros meses de Abril, à vossa maneira… à sua maneira, com muita saúde e boa disposição sempre à mistura. Tudo de bom para si e para os seus.
Um grande abraço de amizade
José Manuel Oliveira