segunda-feira, 26 de março de 2012

SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE

Serração da Velha
ou
o “Auto da Menina da Cotovia”

24 de Março de 2012



Mais uma vez a tradição foi cumprida em Tavarede.

Realizou-se no dia 24 de Março de 2012, pelas 21.30 horas, a tradicional Serração da Velha ou (este ano) o Auto da Menina da Cotovia.

Esta atividade já se realiza há muitos anos. Já não me recordo a altura em que comecei a colaborar nesta realização. Só sei que já se cumpria esta tradição muito antes de ter vindo ao mundo.
Só posso lamentar que esta tradição, aqui em Tavarede, nunca tenha sido acompanhada pela comunicação social. Aconteceu este ano mais uma vez.

Mas não é por isso que deixamos de cumprir a tradição e este ano mais uma vez, foi “serrada a velha”. A freguesia de Tavarede voltou a reunir-se, para ouvir o que a Velha “deixou em testamento”, aquecendo com o calor do convívio, estas normalmente frias noites do início da Primavera, mas que este ano aqueceu principalmente os ânimos das muitas pessoas que acompanharam os cortejo nas ruas e encheram a sala do Teatro da SIT.
O cortejo da “Serração da Velha” teve início, no Pavilhão da SIT (como todos os anos acontece) em direção ao Largo do Paço, tendo seguido pela rua A Voz da Justiça, até ao Largo da Igreja, onde ali muito perto fica o “Tasco do João Pedro”, onde se foi buscar (para passear!?) a Velha, que ali foi fazer, beber ou lavar não sei o quê e foi terminar na Sala de “Audiências” do Teatro da SIT.


“EDITAL DE CONVOCAÇÃO DE ANA CASTANHA PILADA
ESCRIVÃO
Vimos através do presente edital,
Nós os habitantes desta vila pacata
E em conformidade com os artigos etc. e tal
Do Estatuto da Conservação da Sucata,

Convocar Ana Castanha Pilada,
A comparecer à porta deste “Palacete”
Para realizar uma “Real” passeata,
Vindo por isso a bem ou a cacete.
…………………………………….
Nesta noite em primeira convocação
Vens à bruta e de livre vontade,
Visando este passeio com abnegação
Até à nossa querida coletividade.”

O cortejo foi acompanhado com uma salada musical executada pela desafinadíssima Orquestra Sinfónica da Outra Banda, que se fez ouvir em dois minutos de silêncio, com a Mula da Cooperativa, em desrespeito da gozada velhinha.
Esta tragédia em camisa pelo motivo do vestido se encontrar na barrela, foi escrita pelo grande dramaturgo Marrada Bruto.
A ação decorreu sob um grande temporal, carregado de aguaceiros nas partes das regiões baixas e com rajadas fortes do lado do W.C.
Sentiram-se ventos secos e húmidos, entre o Vale dos Dois Montes Juntos, devido à descarga atmosférica influenciada pela superfície abdominal.
Esta previsão foi gentilmente fornecida pelo astronómico observatório da Ferrugenta.
Já no tribunal o Juiz vocifera as suas ordens:


“JUIZ
Atenção, muita atenção,
Eu sou o Doutor Juiz,
E tenho por obrigação
Cumprir as leis do país.

Em nome do Tribunal
E a fim de ser julgada,
Trago ordem oficial
P’ra prender esta malvada.
………………………………”

Durante o tribunal as personagens foram desfilando, acusando ou defendendo a Velha, sempre com a intenção de levarem alguma coisa…

Contra-Regra: Jorge Filipe
Juiz: António Dinis
Regedor: José Alberto Cardoso
Velha: João Miguel Amorim
Médico: Manuel Lontro
Enfermeira: Fernando Romeiro
Sobrinha: Miguel Feteira
Criança: Rafael Cardoso
Advogado de Acusação: António Simões Baltazar
Troika-Tintas: António Barbosa
Advogado de Defesa: António Bento
Escrivão: José Manuel Cordeiro
Ajudante de Escrivão: Victor Azenha
1º Carrasco: Artur Correia
2º Carrasco: Luís Dias
Acompanhantes: João Cardoso, Pintos (pai e filho) e Henrique Correia
Caracterizadora: Lita Cordeiro
Guarda-Roupa: Sílvia Pedrosa
Contra-Regra: João Pedro Lemos Amorim
Cenários: Arcelino Cardoso

Já no final o Juiz dá a última palavra à Velha:


…………………..
“JUIZ
ANA CASTANHA PILADA,
Julgada por avareza,
Antes de ser condenada,
Quer fazer a sua defesa?

VELHA
Peço perdão, senhor Juiz.
Eu já estou arrependida
De tanta maldade que fiz.
Tenho saudades da vida.

Antes da condenação,
Só peço mais um momento,
Para que o senhor ESCRIVÃO
Leia o meu TESTAMENTO.”


No seu TESTAMENTO, a desditosa velhinha, espalhou pelas pessoas da sua "amizade" o seu “riquíssimo” espólio, esperando assim satisfazer os desejos de alguns tavaredenses. Assim e finalmente o Escrivão e o seu Ajudante leram o tão aguardado Testamento:


“Aos 24 dias do mês de Março,
Na presença do doutor Juiz,
Eu, ANA CASTANHA PILADA,
Meu Testamento assim fiz:”
…………………….

Acabado de ler o testamento, então o Escrivão pergunta, roncando, já meio fatigado de voz:


“Que castigo ela merece
Dizei-me, senhores, meus?
Rifamo-la na quermesse,
Ó pomo-la a encher pneus?

(Dizem todos os participantes:)

Serre-se a velha
Força no serrote
Serre-se a velha
Dentro do caixote!”


Na execução da infortunada velhinha, foi visto esta, heroicamente fazer a entrega do seu tão ressequido e carunchoso corpo, às mãos brutais e cabeludas dos impiedosos e terríveis carrascos, que serraram a RÉ, LÁ ao SOL, sem DÓ, nem outra nota de qualquer piedade.
E assim mais um ano foi cumprida esta tradição já muito antiga em Tavarede.

Após o “Julgamento e morte da Velha”, todos os participantes se reuniram para conviver num animado repasto composto de um variado e abundante conjunto de artigos especialmente confecionados para dar ao dente e regado com algumas bebidas vigorosas.

Só resta este ano dizer, para o ano que vem cá havemos de estar novamente para que as tradições não se deixem cair no esquecimento.

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