quinta-feira, 30 de junho de 2011

PELAS ARRIBAS DO DOURO

De Tabuaço a Barca d’Alva
Dia 18 de Junho de 2011


Às 8H00 em ponto do Largo da Igreja em Tavarede, saímos para mais um passeio organizado pelo Tó Simões. O dia estava um pouco fresco e encoberto apesar de não chover. Assim foi o início deste nosso passeio que pelo caminho teve uma ou outra paragem técnica…

Manhouce foi a nossa primeira visita prevista no roteiro distribuído. É uma freguesia do concelho de São Pedro do Sul, situada no Maciço da Gralheira, nas Serras da Freita e da Arada, cortada por ribeiras profundas formando o vale do rio Teixeira. Manhouce apesar de pertencer à Beira Alta tem muitas influências da Beira Litoral, como se verifica no seu folclore e no seu traje tradicional, isto porque durante muitos anos esta freguesia foi atravessada pela via romana que ligava Viseu ao Porto e que foi utilizada pelos almocreves nos séculos passados.

Manhouce é Povo antigo,
Fica entre o Porto e Viseu.
Tem duas pontes romanas
Que lhe servem de museu.
"Tareio" - Canção Tradicional de Manhouce


As suas casas tradicionais feitas com material da região, eram construídas por pedras soltas e com telhados de lousa. Em 1938, Manhouce foi seleccionada para participar no concurso da "Aldeia Mais Portuguesa" dado o seu tipicismo. Graças ao trabalho exemplar realizado pelo Grupo Etnográfico de Cantares e Trajes de Manhouce e também ao Rancho Folclórico, bem como a publicação do "Cancioneiro Popular de Manhouce da autoria de Isabel Silvestre, Saul Costa e António José Boa Vida, o património etnográfico foi divulgado e encontra-se registado e valorizado. Também parte significativa do património oral encontra-se registada na obra "Memórias de um Povo", da autoria de Isabel Silvestre. Manhouce esteve isolado e sem estrada para circulação automóvel até aos anos cinquenta do século passado, daí ter conservado características etnográficas muito próprias. Mas, para além do vastíssimo património etnográfico, existe o natural e o edificado composto por alguns monumentos megalíticos, vários troços da via romana, as pontes, a igreja matriz, as capelas, as alminhas, os moinhos de água e alguns espigueiros e casas tradicionais.

Para mim esta visita foi o momento mais alto de todo o nosso passeio, visto que não conhecia Manhouce e porque fomos recebidos num ambiente acolhedor, com simplicidade e envoltos numa atitude hospitaleira.

O senhor Presidente da Junta de Manhouce, António Duarte, que já estava à nossa espera junto ao café “Casa da Barreira”, acompanhou-nos até a uma loja de artesanato local onde alguns dos nossos companheiros de viagem adquiriram algumas lembranças.
Já nos encaminhávamos com o senhor presidente da Junta para uma visita à povoação quando avistámos a professora Isabel Silvestre, que vinha ao nosso encontro.




Que grande surpresa!
Posso com toda certeza afirmar que a emoção foi geral e até julgo ter sentido em muitos de nós alguma comoção motivada pela alegria desta presença surpresa.
Esta senhora, grande senhora na verdade, acompanhou-nos em toda esta visita. Contou-nos histórias sobre a História da sua Terra.
Cada beco, cada recanto, cada casa e cada pessoa tem uma história nesta terra.
Isabel Silvestre sabe todas as histórias…
Até a sua casa tem história, histórias…Que grande postura ela mostrou na sua grandiosa simplicidade!
Fiquei agora a admirá-la como pessoa, depois de já a simpatizar pelo trabalho que tem feito pela sua terra e pelo encanto da sua voz.
Cantámos algumas canções da nossa terra que ela gostou e agradeceu.
Depois de nos despedirmos da professora Isabel Silvestre, decidimos almoçar no parque de Manhouce, num almoço tipo piquenique.


O presidente da Junta, António Duarte, apesar de nos ter acompanhado até ao local teve de se retirar para se juntar à família que o esperava.

Depois do almoço deslocámo-nos até ao café “Casa da Barreira”, onde o senhor António Duarte já nos aguardava para convivermos mais um pouco numa amena cavaqueira, que nos levou dentro de algum tempo a fazer as despedidas obrigatórias de quem tem de continuar viagem.
Assim aconteceu sem que antes haver uma vontade recíproca de no futuro se tentar uma geminação entre Manhouce e Tavarede. O futuro o dirá.




Bioparque - S. Pedro do Sul - Parque Florestal de Pisão - visitámos este espaço que se situa na freguesia de Carvalhais, apresentando-se como um espaço eco lúdico. É um lugar onde o repouso e tranquilidade abundam, associados a uma vegetação magnífica em comunhão com uma grande variedade de espécies e plantas, desfrutadas através dos seus percursos pedestres. Tem uma componente estética de natureza organizada, como tem também funções ecológicas, quer ao nível da conservação da flora local e regional, quer como espaço de abrigo para diversas espécies animais.

Ao longo da linha de água que atravessa o Parque, visitámos alguns pequenos e rústicos moinhos de água recuperados e a moer, recriam o ciclo de pão.
Junto à Igreja Paroquial encontra-se o Museu Rural, onde, com uma forte componente etnográfica, se procura reconstituir artes, ofícios e modos de vida passados. O museu foi reconstruído em pedra e madeira, preservando o aspecto inicial. No rés-do-chão encontram-se as peças com uma vertente etnográfica, estando o primeiro andar dedicado à exposição de arte sacra, com peças cedidas pela igreja e pelos habitantes da freguesia. No exterior encontram-se utensílios da lavoura.


Viver a Montanha no seu pleno, é possível neste espaço, através dos alojamentos em Bungalows, Casa de Montanha e na Zona de Acampamento. O prazer das frescas águas da Serra da Arada, está ao dispor nas piscinas, os sabores no bar, a prática de alguns desportos nos campos de voleibol e futebol; bem como, toda uma serie de actividades de aventura que nos permitem ser um amante da adrenalina.



S. Pedro do Sul foi a cidade do distrito de Viseu, que visitámos. Este concelho foi criado em 1836 e foi elevada a cidade em 12 de Junho de 2009. O município é limitado a nordeste pelo município de Castro Daire, a sueste por Viseu, a sul por Vouzela, a sul e oeste por Oliveira de Frades, a oeste por Vale de Cambra e a noroeste por Arouca.

Nas serranias a vida corre ao sabor da calmaria do tempo e num espaço que chega para que todos vivam em harmonia com a natureza e é desta que se extrai o xisto para construir as casas típicas, das típicas aldeias da Pena, do Fujaco, de Covas do Monte ou Covas do Rio. Aldeias abençoadas pelas centenárias capelas de S. Macário de cima e a ermita S. Macário de baixo.

Todo este maciço montanhoso do “Monte Magaio” vive envolto em tradições, rituais, mitos, lendas, crenças de cabras que matam lobos, de serpentes que comem homens e de santos que transportam brasas acesas nas mãos, cujas memórias não se apagaram no correr dos novos tempos.

Pena – São Macário – subimos ao maciço da Gralheira, que se localiza na Serra de São Macário, uma elevação com 1052 m. Fizemos esta paragem no alto de S. Macário, junto à curiosa capela do lendário Homem Santo e agora padroeiro da serra, constituída por um singelo e austero rectângulo caiado de branco com uma fachada aperaltada com dois obeliscos em granito e uma cruz em ferro, cercada por um muro em xisto que a oculta completamente até à altura do telhado.

Meio perdida na Serra da Arada, após o monte de S. Macário, situa-se a Aldeia da Pena, que pelo adiantado da hora não visitámos. Mas a aldeia da Pena é uma daquelas aldeias ditas “Históricas”, com uma mão cheia de casas em xisto com telhados negros cor de fuligem, aninhadas no regaço apertado da cova do monte e envoltas por leiras de lameiros, hortas e bosques de carvalhos e castanheiros. Da população do passado, que era a riqueza e a razão de ser da aldeia, hoje pouco resta para além das histórias, das amarguras, das alegrias e das memórias dignas de figurarem num compêndio de sabedoria popular.

Mesmo assim não quero deixar de transcrever as tão afamadas lendas da Pena e do S. Macário, dando corpo e voz à expressão popular que afiança “quem conta um conto, acrescenta um ponto”, e o mais curioso sobre estas duas lendas é que ambas mantêm uma origem comum mas surpreendem com finais distintos. Ora, diz então a lenda que “em tempos idos existia uma aldeia no coração da Serra de S. Macário, no lugar a que chamam Cova da Serpe. O local, para além de albergar a aldeia, era também residência de uma enorme e malévola serpente-dragão. O animal, daninho como era, descia pela noite ao povoado e provocava verdadeiras razias em gentes e animais, deixando estéreis os campos por onde se arrastava”. E é aqui que as histórias se separam. A lenda da Pena continua da seguinte forma: “a população, amedrontada e farta de perder assim o seu parco sustento resolveu abandonar a aldeia e mudar-se para um outro local. O sítio escolhido foi um vale vizinho, do outro lado da serra (onde hoje se encontra a aldeia), profundo e quase inacessível protegido por gigantescas fragas. Finalmente livres do assombro da serpente os habitantes respiraram de alívio. No entanto, nunca lograram esquecer totalmente a sua antiga aldeia, e por isso se lamentavam pelo seu abandono: que pena... que pena que foi - diziam! A verdade é que o desgosto e a pena foram de tal ordem que o nome acabou mesmo por ficar, e hoje não há nesta região quem não conheça a sorte das gentes da Pena”. A lenda de S. Macário, por seu lado, guarda um final diferente: “Um dia S. Macário matou o monstro e sossegou a população ficando a morar como eremita, primeiro na Cova da Serpa e depois na Capelinha que lhe construíram os aldeões no alto do Monte. E assim, em homenagem ao Santo e à sua boa acção, a capelinha e o monte onde foi construída receberam o seu nome”.

Lamego - chegados a esta cidade no distrito de Viseu, deslocámo-nos até ao Santuário da Nossa Senhora dos Remédios, que dá também o nome à Romaria anual cujo dia principal é o 8 de Setembro, que é também o feriado municipal.


Após esta visita na qual faltou o acesso ao interior, visto aquela estar encerrada por motivo da nossa chegada se ter dado um pouco tardiamente, fomos tomar conta dos quartos na Residencial da Sé, onde pernoitamos.
O jantar já marcado anteriormente num restaurante perto da Sé decorreu num ambiente de alegria e convívio.



Após o repasto juntámo-nos todos, junto à Sé Catedral e em frente à porta principal todo o grupo cantou algumas canções provenientes da nossa terra, a Figueira da Foz.
A seguir com a noite livre, alguns de nós passeámos pela zona nobre da cidade, onde se encontravam barracas com uma mostra de bolas características da cidade: de presunto, fiambre, vinha d'alhos, frango, atum, sardinhas e bacalhau. Podiam-se degustar essas mesmas bolas e claro também alguns óptimos licores…

Dia 19 de Junho de 2011


Saímos de Lamego com destino ao cais de Tabuaço, onde embarcámos num Barco Rabelo adaptado, para o passeio no Rio Douro.


Tabuaço é uma vila do distrito de Viseu, sede de um município limitado a norte pelo município de Sabrosa, a leste por São João da Pesqueira, a sueste por Sernancelhe, a sudoeste por Moimenta da Beira e a oeste por Armamar.
O barco estava reservado exclusivamente para o nosso grupo e por isso o convívio foi uma constante.
A meio da manhã foi-nos oferecido um porto de honra e aperitivos. Cerca do meio-dia o almoço foi-nos servido e a animação a bordo foi uma realidade durante todo o passeio.





Durante a viagem e antes de termos entrado no barco o Tó Simões lançou-nos o desafio de cada um dos participantes fazer uma ou mais quadras sobre este mesmo passeio.
Foi assim perante uma paisagem sem igual, forte nos seus contrastes entre a serra e o vale, entre os tons de verde da vinha e os azuis da água e do céu, as encostas de vinhedos e socalcos a perder de vista, que foram lidas as quadras de todos nós.
Perante a quantidade e qualidade dos trabalhos apresentados foram declaradas vencedoras todas as quadras participantes.
As quadras da minha esposa e minha foram respectivamente as seguintes:



A Manhouce fomos dar
Isabel Silvestre nos recebeu
Com ela estivemos a cantar
E tudo isso ela agradeceu…

1º Dia acabámos em Lamego.
2º Dia iniciámos em Tabuaço…
Tive uma noite de “chamego”
Grande alento pró cansaço!





Barca d’Alva é dotada de cais fluvial, assinalando o limite de navegabilidade do Douro, que começa na sua foz no Porto. Foi o destino de chegada do nosso passeio. Pertence à freguesia de Escalhão, concelho de Figueira de Castelo Rodrigo e inserida no Parque Natural do Douro Internacional. Junto à aldeia situa-se a fronteira com Espanha, aqui definida pelo curso dos rios Águeda e Douro.

Estação fronteiriça, Barca d'Alva possuía, além dos equipamentos normais de uma estação de grande importância e terminal como cocheiras e placa giratória, os postos aduaneiros, posto da Guarda-fiscal, e um hotel. Barca d'Alva é ainda o último local onde é possível atravessar o Douro de e para território português, através da ponte rodoviária Almirante Sarmento Rodrigues.

O nosso passeio continuou até Castelo Rodrigo que é uma freguesia do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo e que nós visitámos. Foi em tempos sede de concelho, até a mesma ter sido transferida para a povoação de São Vicente, entretanto redesignada Figueira de Castelo Rodrigo.Aldeia medieval, erguida no topo de uma colina isolada, a 820 metros de altitude, oferece uma esplêndida vista sobre os campos e serras em redor. Esta antiga vila fortificada, totalmente recuperada no âmbito do Programa de Recuperação de Aldeias Históricas, guarda vestígios de ocupação humana que remontam ao Paleolítico.

Ainda que a sede do município tenha passado para Figueira de Castelo Rodrigo, a povoação continua a apresentar sobejos motivos de interesse, tais como a igreja matriz, fundada pelos frades hospitaleiros em 1192 e dedicada a Nossa Senhora do Rocamador; a cisterna, servida por duas portas, uma gótica e outra mourisca; o pelourinho e o relógio instalado sobre um antigo torreão. Já as ruínas do castelo revelam a raiva da população quando, no final do reinado de Filipe II, incendiou o antigo palácio de Cristóvão de Moura, um dos defensores da legitimidade espanhola por terras lusas.

O nosso passeio teve continuidade pelo Santuário da Marofa e é ali do miradouro natural da Serra da Marofa que contemplamos aquela belíssima terra, onde está aldeia de Castelo Rodrigo, e a lindíssima vila de Figueira de Castelo Rodrigo. Lá no alto existe uma pequena capelinha em honra de Nossa Senhora de Fátima, inaugurada a 13 de Agosto de 1947 e ergue-se, desde 1956, a estátua em granito do Cristo Rei, símbolo de fé dos figueirenses. Ali se foram construindo, ao longo de cinquenta anos, o pequeno “Santuário” com o: Cruzeiro, o Cristo Rei, as Alminhas, a Cripta, a Via-sacra, a Gruta e Mistérios do Rosário. Nada disto pudemos apreciar visto que ao chegarmos lá no alto, fomos impedidos de sair do autocarro, por causa de uma praga de insectos que em “nuvens” intensas cobriam tudo à nossa volta.
Descemos por isso a Serra da Marofa e encontramos um parque de merendas onde mais uma vez nos juntamos para ali procedermos a um lanche ajantarado.

A última paragem deste passeio foi em Almeida que é uma vila pertencente ao distrito da Guarda, sede de um município limitado a norte pelo município de Figueira de Castelo Rodrigo, a leste pela Espanha, a sul pelo Sabugal e a oeste pela Guarda e por Pinhel. Recebeu foral de D. Dinis em 1296. Fica em Terras de Riba-Coa, dominada por fortalezas, planaltos e vastas paisagens, junto ao rio Coa que corre de sul para norte, desaguando no rio Douro.

A chegada a Tavarede aconteceu já por volta das 22H30.
Mais uma vez toda a gente se mostrou satisfeita e já com um grande desejo de participar no próximo passeio que se irá realizar à Festa dos Tabuleiros de Tomar.