Dia 19 - Pelas 05H00 da manhã partimos do Largo da Igreja de Tavarede, rumo aos Picos da Europa, com passagem por Santiago de Compostela.
A organização mais uma vez é do amigo Tó Simões.
A chuva estava ali presente como que a desejar-nos uma boa viagem.
Com paragem “técnica”, para café e… lá passámos a fronteira (?) e entrámos em Espanha. Os relógios foram adiantados 01H00.
Já passou uma dezena de anos quando descobri um paraíso de que há muito ouvia falar, uma região natural de uma beleza imensa. Os Picos da Europa são um destino de sonho com paisagens de cortar a respiração, com um património histórico grandioso e com aglomerados populacionais harmoniosos que obrigatoriamente merecem uma visita, assim como da grandiosidade dos lagos e da paz e respeito que se sente na Basílica e Gruta de Covadonga.
É espectacular o maciço dos Picos da Europa que fica entre Cantábria e as Astúrias. Esta região rural mantém as tradições vivas nas aldeias dos vales remotos e das montanhas. Existem muitas Vilas ancestrais com igrejas e monumentos cheios de história e amenos portos de mar.
Visitar os Picos da Europa é uma viagem que faz bem à alma e ao corpo.
É esta a maravilhosa região que vamos visitar.
Lá mais para o fim da tarde, fizemos uma paragem numa povoação já muito perto de Arriondas, para ali provarmos a bebida mais popular desta região a “Sidra”.
Chegados a Arriondas, fomos tomar conta dos nossos quartos, no Hotel Los Acebos, que passou a ser o nosso “quartel-general”, durante dois dias. Arriondas está situado na junção do rio Sella e o rio Piloma. Também está idealmente localizado para viagens a vários outros municípios das Astúrias incluindo Cabrales, Amieva, Ponga e Ribadesella, bem como Covadonga e apenas a alguns quilómetros de distância da famosa cidade de Cangas de Onis a oeste e a norte das montanhas dos Picos da Europa. Los Acebos de Arriondas Hotel - tem uma localização central, ficando muito próximo da maior parte das atracções turísticas e locais de negócios em Arriondas, com comodidades modernas em todos os quartos de hóspedes e um serviço de restauração onde nos foram fornecidos dois jantares, cujos menus não foram assim muito agradáveis para o meu gosto português.
Lagos de Covadonga - terminada a visita ao Santuário começámos a subir rumo à região dos lagos Ercina e Enol. Foi uma subida sempre rodeada de paisagens, numa belíssima estrada de montanha, vencendo um desnível de mais de mil metros. Pelo caminho passamos pelo Mirador de la Reina, um fantástico mirante virado a norte. Os alcantilados rochosos de impressionante recorte alternam com vales e encostas onde se pode observar florestas de faias, tílias e azevinho. A pouco mais de mil metros de altitude surge o Lago Enol, o maior, cuja profundidade vai até aos 25 m e logo seguir o Lago Ercina, cuja profundidade é de 2,5 m, os dois de origem glaciar. Ao lago Ercina só foram alguns (poucos) companheiros de viagem, que se tiveram de deslocar a pé já que o acesso ao autocarro estava vedado. Junto dos lagos existem algumas áreas dominadas por pastagens, de preferência em áreas planas, que são conhecidas como dobras ou assentamentos de pastoreio tradicional, geralmente na presença de uma cabana de pastor, onde tradicionalmente era produzido queijo Gamonedo. O dia mostrava-se pouco agradável com o sol encoberto e chuvoso.
O nosso próximo destino era Cangas de Onis, onde nos esperava o almoço num dos vários restaurantes que por ali existem. A conselho do Tó Simões, dividimo-nos por vários restaurantes para que não fosse demorada a nossa refeição. Assim, alguns de nós optámos por uma “Taverna”, característica desta região onde nos foi fornecido um almoço que muito apreciámos, pela diferença e boa confecção. E em simpática companhia, deliciei-me com uma ‘’Fabada à Astúriana’’... e... ainda me ‘’atirei’’ a um soberba dose de ‘’Estofado de Ciervo’’... com um gelado e café para finalizar.
O artesanato é variado, mas como curiosidade salienta-se a cerâmica que foi importante na época da Guerra Civil. Esta tradição da cerâmica originou o apelido de "jarros" quando se fazia referência aos habitantes do município. São feitos em cerâmica os vasos, panelas, pratos, panelas, etc., muitos dos quais têm a sua face interna e externa de vidro. Desta cerâmica de Cangas de Arriba tornou-se muito popular a caneca de sidra ou de vinho, vermelho, chamado de "Pusu".
Depois do almoço, foi um bocado penoso o caminho por ser um pouco longo que nos levou até ao Mosteiro de Santo Toribio de Liébana, um mosteiro franciscano localizado no município de Camaleño e perto de Potes, na região de Liébana. Ele contém obras de Beato de Liébana e o Vera Cruz, de acordo com o cristão católico a maior parte conhecida da cruz onde morreu Jesus Cristo. Ao lado de Jerusalém, Roma, Santiago de Compostela e Caravaca de la Cruz, é um dos locais sagrados da cristandade. Foi declarado Monumento Nacional em 11 de Agosto de 1953. A origem do mosteiro é escuro. A primeira referência ao Mosteiro de Turieno, sob o título de Santo Toribio, data de 1125. Provavelmente durante o séc. VIII o corpo de outro bispo, Toribio de Astorga, foi transferido para o mosteiro com relíquias que se acreditava terem sido trazidas da Terra Santa. A mais importante delas foi o Vera Cruz, o pedaço da cruz de Cristo, que continua a ser o maior conhecido de acordo com a Igreja Católica. A madeira é, portanto, um relicário em forma de cruz de prata dourada, cujas medidas são 635 mm, na vertical, 393 mm, na horizontal e com uma espessura de 40 mm., tornando-a a maior relíquia preservada da cruz de Cristo.
No regresso a Arriondas fizemos uma curta paragem em Potes, uma das cidades mais atraentes da província e comunidade autónoma da Cantábria, uma área que é cercada por montanhas espectaculares, com riachos e rios. Existem ruas que têm muitas pontes, bem como edifícios e monumentos com séculos de história, como a Torre do Infantado e da Orejón de Lima Tower (séc. XV). A parte antiga da aldeia está cheia de ruas estreitas e casas senhoriais, testemunhas do seu antigo esplendor. A paisagem natural é um destino ideal para os desportos, em qualquer época do ano. Existem muitas casas comerciais onde se vendem os famosos e tradicionais licores destilados, não esquecendo a variedade de queijos que ali se podem também encontrar.
Entretanto a tarde já estava a cair, com um pouco de chuva a acompanhar-nos, e ainda tínhamos de andar uns quilómetros até chegarmos ao nosso hotel em Arriondas para ali jantarmos e retemperarmos as forças para o dia de amanhã.
Dia 21 - Saímos do Hotel após o pequeno-almoço, mas nesta manhã com as malas às “costas” pois a próxima noite já seria em terras de Santiago. Mas gostaria agora de falar sobre a sidra e de certas curiosidades, e como estamos na sua região e aos poucos a iremos deixar é esta altura de o fazer.
A Rota da Sidra - Bebe-se sidra em praticamente em toda as Astúrias. Em Oviedo, em Gijón, como em Nava e noutras cidades das Astúrias, multiplicam-se as sidrerías, bares onde se pode degustar a típica bebida e picar os petiscos tradicionais da região, alguns deles nos arredores da cidade - os merenderos - espaços ao ar livre e com vista sobre a verde paisagem asturiana. A Calle Gascona, em pleno centro, reúne um assinalável número de sidrerías. Entre Nava e Villaviciosa, um povoado assente numa zona de costa recortada, estendem-se inúmeros pomares que tomam no Outono as cores amarela e vermelha. Os pomares asturianos ocupam uma área superior a sete mil hectares e os lagares industriais têm capacidade para cerca de quarenta milhões de litros de sidra. Numa terra de clima nada propício ao cultivo da vinha, a sidra é a bebida de referência para convívios e festejos, néctar que nos últimos anos tem vindo a recuperar a sua popularidade, onde as noites de copas não dispensam o velho ritual de escanciar. Com a garrafa bem acima da cabeça, o braço esticado, e o copo tão baixo quanto se possa, a sidra “voa” um bom metro antes de se precipitar no copo. Diz-se que este processo permite ao líquido um mais prolongado contacto com o ar e, consequentemente, a libertação de impurezas. À quantidade de sidra servida chama-se culín e as festas tradicionais que lhe são consagradas são conhecidas por espicha.
Nota negativa: não sei se estará a perder a tradição de escanciar por um humano!? Pois que em alguns locais onde entrámos estava um boneco que fazia este serviço e o único rapaz que nos fez este ritual despejou mais sidra no chão do que dentro do copo…
Chegámos a Oviedo onde tivemos o tempo livre para visitar o centro histórico. Cidade capital comercial e cultural da província e comunidade autónoma do Principado de Astúrias das Astúrias, conserva um núcleo urbano de traçado medieval à volta da Praça Alfonso II. Visitámos a imponente catedral, edificada em estilo gótico flamejante. No seu interior conserva-se um admirável retábulo do séc. XVI, além dos túmulos de seis monarcas asturianos. Mas o tesouro mais precioso é a Câmara Santa, uma capela do séc. IX, um relicário da melhor arte sacra. É conhecida pela limpeza das ruas do seu centro histórico. Está dotada de vários espaços verdes, dos quais se destaca o Campo de San Francisco, no centro da cidade. Os habitantes, os Ovetenses, são também conhecidos por Carbayones (carvalhões), devido a um carvalho carbayo em asturiano) legendário, que foi derrubado por se encontrar doente e em risco de tombar, no séc. XX, ficando uma placa a indicar o lugar onde estava. O mesmo nome é dado ao doce tradicional de Oviedo, um pequeno bolo composto por massa folhada, recheada com uma pasta de amêndoa, ovos e açúcar, coberto por uma capa à base de açúcar.
Acabada a visita fizemo-nos à estrada e como o tempo voa, a hora do almoço também estava a chegar e com um telefonema do Tó Simões, foi combinado com o Hotel Restaurante El Rocio, a nossa recepção para o repasto. Foi-nos dada uma óptima refeição constituída por uma Sopa de Marisco (até podíamos repetir), um Estofado de Ciedro, Gelado e bebidas.
Fizemo-nos novamente à estrada mas alguns quilómetros andados fizemos uma pequena paragem em Ribadeo. Cidade da província de Lugo, comunidade autónoma da Galiza, na fronteira com o Principado das Astúrias e banhada pelas águas do mar Cantábrico. Foi formada por um núcleo primitivo nas docas de Porcillán e Cabanela, nas margens do rio. Na metade ocidental da costa cantábrica, existem muitas praias e falésias, entre as quais a Praia das Catedrais, onde um grande afluxo de turistas as visita para verem as formas esculpidas pela erosão marinha sobre a falésia. Costa conhecida como Rias Altas, uma área de excepcional beleza natural que não deve ser perdida por qualquer turista ou visitante.Mais uma vez a estrada nos esperava. O nosso destino era Lugo, mas por necessidades fisiológicas de alguns companheiros de viagem, tivemos de parar numa povoação chamada Meira. Felizmente tive a sorte de visitar uma pequena igreja, cuja padroeira é Nosa Señora do Pedregal. No seu interior para além de umas muito antigas e belíssimas imagens, ainda apreciei uma exposição dedicada à Semana Santa que se estava a comemorar.
Outros pontos turísticos são: a Catedral, dedicada a São Froilán, construída sobre 1129, que goza do privilégio de ter o Santíssimo Sacramento exposto permanentemente; o Convento e Igreja de São Francisco, em estilo gótico; a Igreja de S. Domingos; a Câmara Municipal, uma estrutura barroca de grandes dimensões com uma fachada de meados do séc. XVIII. Como curiosidade a cidade de Lugo é germinada com: Dinan, França; Qinhuangdao, China; e Viana do Castelo, Portugal.
Depois de mais uns quilómetros andados chegámos a Santiago de Compostela.
A Lenda de Santiago de Compostela - O nome de Santiago de Compostela compõe-se de duas partes, São Tiago - o apóstolo, e Compostela - Campus stellae, cuja tradução quer dizer "Campo de estrelas". Este Campo de estrelas refere-se à lenda da origem desta cidade. Reza a referida lenda que, no ano 813, um habitante, de nome Pelayo, estando no local em que hoje se encontra a cidade, viu luzes e sinais no céu. Seguiu as pistas sugeridas pelos sinais e encontrou o túmulo e os restos mortais de São Tiago e dos seus discípulos. Relatou o sucedido ao Bispo Teodomiro de Iria Flavia, localidade situada a 20 Km de Santiago de Compostela. O bispo mudou a sede do bispado para Compostela e informou o Rei Alfonso II daquilo que tinha sucedido. O Rei chegou ao lugar e ordenou a construção da primeira capela de Santiago de Compostela, para protecção do apóstolo e para que o recordassem. Assim foi sendo edificada, passo a passo, a cidade actual, que ainda encerra um centro muito antigo. Em 1993 o Caminho de Santiago de Compostela foi considerado Património da Humanidade pela Unesco. Cidades germinadas com Santiago de Compostela: Buenos Aires, Argentina; Mashhad, Irão; Coimbra, Portugal; e São Paulo, Brasil.
Dia 22 - Saímos do Hotel, após o pequeno-almoço, e dirigimo-nos ao Santuário de Santiago de Compostela e ao seu centro histórico para uma visita.
Pelas 11H00, como tínhamos a visita feita saímos de Santiago de Compostela, e mais uma vez nos fizemos à estrada a caminho de Vigo onde almoçámos.
Depois de atravessarmos finalmente a fronteira, os relógios tiveram que rodar os ponteiros para menos uma hora, que já estamos em Portugal.
Uma hora depois desta paragem o autocarro esperava-nos para nos levar a mais uma etapa da viagem, esta com o objectivo do nosso jantar.Por volta das 19 horas lá chegámos a Murtede, local aonde nos esperava o tal jantar que desta vez era mesmo constituído por leitão.
Os três leitões foram acompanhados com pão quente muito saboroso e regado com vinho que se ia retirando de algumas cubas em aço inox.
Ali estivemos a conviver durante cerca de uma hora, em alegres cavaqueiras e canções que se foram cantando à laia de despedida, não só do local onde estávamos, como também deste nosso passeio que agora estava a chegar ao fim.
Chegámos a Tavarede pelas 21H45.
As despedidas da praxe, os abraços de amizade que trocámos e os desejos de um breve reencontro já para o próximo passeio ao Douro – Régua/Barca d’Alva.
Finalmente, só falta dizer que correu tudo bem, foi mesmo altamente.
Estivemos perante um dos maciços montanhosos mais importantes da Península Ibérica, com zonas de alta montanha de origem glaciar, lagos espelhados, extensos vales e picos abruptos. E muitas pastagens com gado e muitas cabras montanhesas que por aqueles penhascos escarpados por lá vivem e se movimentam com uma agilidade de pasmar.
O nome diz tudo e a imensidão da paisagem também.
Mais uma vez o meu amigo Tó Simões está de parabéns.
A organização e a condução das pessoas em todas as situações foram exemplares.
Sem duvida um passeio invejável e aliciante.
Até ao próximo passeio!...