Do espólio do MUDE fazem parte cerca de 170 peças, da colecção de Francisco Capelo, vendida pelo próprio à autarquia de Lisboa em 2002. Esta exposição já visitámos há já algum tempo atrás. Mas agora, LÁ VAI ELA, FORMOSA E SEGURA - Scooters da colecção de João Seixas, é o título para uma outra exposição que se encontra neste museu. Leonor cantada por Luís Vaz de Camões, que ia descalça para a fonte, «fermosa, mas não segura», é reinventada por António Gedeão, em 1961, e passa a ir «voando para a praia, na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta». Animados por esta nova Leonor e embalados pela sonoridade do poema, intitulámos Lá vai ela, Formosa e Segura à exposição que apresenta a evolução da scooter, entre 1945 e 1970. Lá vai ela tem um duplo sentido. No feminino, tanto designa a scooter, ícone mediático de um tempo e de um modo de vida urbano, jovem e democrático, como também é um galanteio à nova mulher, mais emancipada e profissionalmente activa que se afirma no pós-Segunda Guerra, já segura e formosa, conduzindo-se a si própria, entre o trabalho e a casa, ou em puro passeio pela sua cidade.
Com esta exposição ficaremos mais conscientes da pluralidade e especificidades de cada scooter, percebendo melhor este fenómeno que cruza a Europa e os Estados Unidos. Mas é inegável que, entre todas as scooters, a Vespa ganha uma popularidade tal que a torna quase no seu sinónimo. Símbolo do bom design italiano, é hoje um clássico do século XX e um objecto de culto. Exemplo paradigmático da unidade entre a forma, de linhas modernas e orgânicas, e a nova tecnologia, a Vespa significa também o ressurgimento económico de Itália e da marca Piaggio. Económica, funcional e bela, a Vespa tem de ser olhada no âmbito do movimento global de afirmação do design italiano como factor distintivo. É a união de todas estas características, e não só a sua forma e estilo, que faz dela um excelente objecto de design, estando representada em várias colecções museológicas.
Se a scooter foi protagonista das cidades reconstruídas do pós-guerra, ganha hoje um renovado alcance perante os desafios vividos nas grandes metrópoles, uma vez que pode fazer parte, juntamente com uma articulada rede de O piso 1 do MUDE volta a metamorfosear-se na procura de renovadas geometrias e temperaturas do espaço expositivo.
Viajemos, assim, ao volante da scooter, por estes vinte cinco anos do século XX, mas com os olhos postos no futuro.

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