23 de Março de 2014
Pelas
09H00 da manhã saímos do Largo da Igreja de Tavarede, ponto de encontro e de
início dos nossos passeios.
A
nossa primeira paragem aconteceu para uma confraternização entre todos os
companheiros de viagem e para mais algumas necessidades pessoais, em
Montemor-o-Velho.
Seguimos
entretanto até Penela onde fizemos uma visita.
Penela é uma vila localizada
na encosta poente de um monte, na estrada
romana que ligava Coimbra a Tomar.
Etimologicamente, o termo "penela" é um diminutivo de
"peña", "pena" ou "penha", e significava, em
baixo latim, cabeço, monte ou rochedo. Tendo em atenção estudos feitos aos
vestígios existentes, é de crer que na origem do Castelo de Penela estivesse um primitivo castro lusitano, aproveitado quando da invasão romana da península Ibérica, às
passagens sucessivas dos Vândalos,
destruidores da fortificação construída pelos Romanos, dos muçulmanos, que
tomaram o castelo no século VIII,
e das tropas de Fernando I de
Leão, tendo a fortificação ficado sob a responsabilidade do conde Sesnando Davides, após a conquista de
Coimbra (1064). A povoação recebeu o seu primeiro foral em julho de 1137, concedido por D. Afonso
Henriques, constituindo-se portanto num dos Municípios mais antigos do país. O
seu castelo é, depois do Castelo
de Montemor-o-Velho, o mais amplo e forte que atualmente nos resta da linha
defensiva do Mondego.
Património - Castelo de Penela, Castelo de
Germanelo, Igreja de S. Miguel, Pelourinho de Penela, Igreja da Misericórdia, Igreja de Santa Eufémia, Igreja Matriz de Podentes, Pelourinho de Podentes, Igreja Matriz do Rabaçal, Villa Romana do Rabaçal, Convento de Santo António, Igreja Matriz da Cumieira, Igreja Matriz do Espinhal, Aldeias Típicas, entre outros.
Em
seguida, passámos por Espinhal, uma
das freguesias do concelho de Penela. Esta freguesia ocupou um lugar de destaque
na História de Portugal, onde encontramos diversas referências, sobretudo
devido à importância da estrada que por ali passava fazendo a ligação
norte-sul. Desde o século XVI que o Espinhal se encontra ligado a atividades
como a fundição do ferro e do cobre e do fabrico do papel.
Atividades estas que
desempenharam um papel determinante no desenvolvimento da freguesia. O Espinhal
tem também algo para contar no que se refere à passagem das tropas francesas e
portuguesas pela vila durante as Invasões Francesas no séc. XIX. A importância
desta vila é facilmente comprovada pela existência de várias famílias nobres e
das suas residências senhoriais.
Visitámos um dos
edifícios mais importantes da freguesia do Espinhal, a Igreja Matriz datada do
séc. XVI, a qual se destaca pela sua arquitetura e pela sua escultura.
A
hora do almoço estava a aproximar-se e por isso o nosso passeio foi direcionado
para o Museu
da Chanfana. O Restaurante Museu da Chanfana é
uma merecida homenagem à gastronomia tradicional assente na carne de cabra velha, de porco e ainda na caça e pesca. É conhecida Miranda do Corvo
como Capital e Berço da Chanfana.
O Museu da Chanfana aparece
associado a um conjunto de factos históricos, práticas ancestrais e artes e
ofícios artesanais. O aproveitamento integral da cabra reflete a pobreza,
ruralidade e a pastorícia da região.
Pratos como a Chanfana, Negalhos e Sopa de Casamento confecionados
seguindo a receita genuína e os métodos mais tradicionais, são algumas das
experiências gustativas disponíveis. No Restaurante, museu vivo da gastronomia
regional, é dada grande importância aos pratos tradicionais de carne de porco
como o sarrabulho, o bucho e os enchidos.
Desta apetecida ementa foi escolhida pelo nosso organizador Tó Simões, os
seguintes pratos principais:
- Sopa de Casamento: era tradição, no dia
seguinte ao casamento, servir o almoço aos convidados. Como nas caçoilas já só
havia molho e restos de Chanfana aproveitavam as sobras para fazer a Sopa de
Casamento. Para a sopa utiliza-se o pão alternando em camadas com a couve da
época, previamente cozida. Rega-se com o molho de chanfana bem aquecido e
enfeita-se com os restantes pedaços de carne. Tal como a chanfana, este
prato é cozinhado em recipiente de barro, para depois ir ao forno apurar.
Estava uma delícia.
- Chanfana: Miranda do Corvo é berço da
chanfana. Crê-se que tenha nascido com as monjas do Mosteiro de Santa Maria de
Semide, fundado no Séc XII. A sua difusão foi favorecida pelo facto do
Santuário ao Divino Senhor da Serra ser local de peregrinação de toda a região
centro, tendo perdido a sua importância no Séc. XX devido ao surgimento de Fátima.
É um prato
ligado à vida agro pastoril. A cabra era utilizada para produzir leite e para
gerar novos animais. Os cabritos, desnecessários aos rebanhos constituídos por
bodes com harém de cabras, eram abatidos e utilizados como manjar dos nobres e
famílias ricas. Chegadas ao fim da vida útil as cabras velhas eram cozinhadas
nos fornos de lenha também utilizados para o pão e/ou broa. A utilização do
vinho garante não só o seu excelente sabor como contribui, junto com a gordura
do assado, para facilitar a conservação da chanfana, nas caves do Mosteiro ou
nos locais mais frescos e escuros de cada casa. Julga-se que o facto da
freguesia de Lamas ser local privilegiado de produção de vinho tenha facilitado
o nascimento da Chanfana, também favorecido por Miranda ser terra de oleiros,
fabricantes das caçoilas. A carne de cabra é cortada às postas, colocada com os
temperos a marinar nas caçoilas e coberta de vinho. A chanfana é prato
obrigatório nos dias de festa e imprescindível nas ementas dos casamentos.
- Bacalhau
em crosta de broa de milho, para
alguns companheiros, de entre os quais para mim e para a minha esposa.
- Nabada foi uma das sobremesas que
alguns experimentaram. É um doce conventual originário do Mosteiro de Santa
Maria de Semide, Miranda do Corvo. O Mosteiro de Semide, edificado na primeira
metade do século XII e com Carta de Couto passada por D. Afonso Henriques em
1154, albergou monges durante três décadas e passou a convento até 1896, data
de afastamento da última freira da Ordem Beneditina. A Nabada era servida em
recipiente de barro feito nas olarias da região. Miranda do Corvo é considerado
«Museu vivo da cerâmica do barro vermelho» com artesanato e indústria de olaria
existente desde a Idade Média. O Convento de Semide é conhecido por ter
popularizado a receita da Chanfana, Negalhos e Sopa de Casamento, receitas que
permitem o aproveitamento integral da cabra velha.
Após este almoço que estava cinco estrelas e agradou a todos os
companheiros de viagem, fizemos então a visita ao Parque Biológico da Serra da
Lousã está nas proximidades da vila de Miranda,
situado na Quinta da Paiva, é uma proposta
multifacetada na oferta turística associando a educação ambiental ao
enaltecimento de valores e tradições culturais da região. Possui 12 hectares,
sendo 7 de área florestal e 5 de área agrícola e social. Dos 12
hectares, apenas 5 hectares são visitáveis pelo público. O Parque Biológico da Serra da Lousã integra
um Centro de Informação / Bilheteira, Parque de Vida Selvagem, Quinta
Pedagógica, Labirinto de Árvores de Fruto, Roseiral, Centro Hípico, Museu Vivo
de Artes e Ofícios Tradicionais com Loja de Artesanato, Museu da
Tanoaria e Restaurante Museu da Chanfana.
Geologicamente a Quinta da Paiva é predominantemente formada por
arenitos, conglomerados, xistos e grauvaques e constituída por solos com pouca
profundidade, denominados cambissolos, que se encontram ainda em processo de
desenvolvimento, apresentando uma fertilidade natural mediana. A sua flora reúne um conjunto de 88 espécies,
entre árvores, arbustos e herbáceas. De salientar a vegetação ribeirinha,
nomeadamente a presença de amieiros, salgueiros e freixos. A Quinta foi palco
de uma economia agro-pastoril que motivou, durante séculos, o modo de vida das
populações desta região, com estruturas representativas dessa vida comunitária,
nomeadamente caminhos vicinais, muros de pedra xistosa, casa do caseiro, rio,
açude, levada, moinho de água e engenhos de rega. Neste sentido, o espaço
contempla um ecomuseu onde
exemplares de engenharia agrícola, hidráulica e eólica poderão funcionar como
aulas vivas de etnofísica e etnomatemática, ligando a tecnologia à
história.
Esta
visita foi muito interessante e rica em conhecimentos: houve um pouco de diversão, aprofundamento da biofilia, podemos apreciar
a natureza e aprender a valorizar o ambiente.
No
Santuário do Divino Senhor da Serra em Miranda do Corvo, foi a nossa
próxima paragem. A capela
primitiva foi construída nos finais do séc. XVII, sendo depois reformada nos
sécs. XIX e XX. Destaque para os retábulos colaterais e a imagem do Cristo,
comprados. As
origens do Santuário estão
intimamente relacionadas com a imagem do Santo Cristo colocada onde hoje se
ergue a cruz da serra. Foi construída pelas freiras de Semide uma capelinha, mandada fazer entre 1653 e 1663, a
qual serviu ainda para albergar a imagem do Santo Cristo, cada vez mais
visitada devido à fama crescente de milagres.
Foi esta afluência de romeiros conjugada com o aumento do número de
habitantes que impôs a construção do atual Santuário. A capela é uma obra
produto das diversas atividades artesanais que se desenvolveram em Coimbra, no
fim do século XIX e no princípio do XX, em redor da Escola Livre das Artes do
Desenho. O traçado é, ele próprio, uma fusão de elementos neogóticos e
românicos -, com predomínio destes, inspirados nos monumentos de Coimbra. Tem
uma só nave. A torre ergue-se a meio da frontaria, rasgando-se na base o portal
e rematando ela em pirâmide. A capela-mor, poligonal, é de tipo nitidamente
românico. Lá dentro podemos apreciar o altar-mor dourado que foi executado
pelos alunos da antiga Escola Industrial Brotero em Coimbra sob orientação de
João Machado, tal como os belíssimos vitrais, estes sob a direção do prof.
Lapierre. Outros pormenores de enorme interesse são os azulejos que revestem as
paredes, os quais constituem representações de cenas da vida de Jesus, os
altares laterais, provenientes Capela da Misericórdia de Coimbra, a pintura do
Tecto, obra do pintor Eliseu de Coimbra e o púlpito de pau preto, que constitui
uma obra do século XVII, originário da Sé Velha de Coimbra.
Infelizmente não tivemos a oportunidade de visitar este santuário, pois
estava fechado e a pessoa que nos poderia abrir a porta não se encontrava
presente. Fica para uma próxima vez.
Como ainda tínhamos algum tempo e um dos nossos companheiros é natura da
povoação de Ançã, mostrou vontade de nos dar a conhecer esta localidade. Foi
para lá que rumámos para uma pequena visita já tardia pelo adiantar do dia que
já escurecia. Foi uma pena! Deixou-nos a todos com água na boca e com vontade
de lá voltar noutra altura.
Ançã é uma vila do concelho de Cantanhede, foi elevada a vila em 12 de julho de 2001.
O nome Ançã é de origem romana, teriam sido os monges italianos a atribuir-lhe
esse nome devido à abundância de água e de caça. O nome de Ançã proveio do
italiano abbondanza que etimologicamente deriva do termo latino Anzana cuja
declinação passou pelas fases de Anzam, Anzaa, até à sua grafia actual.
A
hora estava a aproximar-se para regressarmos a casa. Ainda parámos em Tentúgal,
na Pousadinha, onde se petiscou e também levar para casa, algumas das iguarias
que ali comercializam.
Pelas
21H15, chegámos a Tavarede.
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