quinta-feira, 27 de março de 2014

Passeio ao Museu da Chanfana e ao Parque Biológico da Serra da Lousã

23 de Março de 2014

Pelas 09H00 da manhã saímos do Largo da Igreja de Tavarede, ponto de encontro e de início dos nossos passeios.
A nossa primeira paragem aconteceu para uma confraternização entre todos os companheiros de viagem e para mais algumas necessidades pessoais, em Montemor-o-Velho.
Seguimos entretanto até Penela onde fizemos uma visita.
Penela é uma vila localizada na encosta poente de um monte, na estrada romana que ligava Coimbra a Tomar. Etimologicamente, o termo "penela" é um diminutivo de "peña", "pena" ou "penha", e significava, em baixo latim, cabeço, monte ou rochedo. Tendo em atenção estudos feitos aos vestígios existentes, é de crer que na origem do Castelo de Penela estivesse um primitivo castro lusitano, aproveitado quando da invasão romana da península Ibérica, às passagens sucessivas dos Vândalos, destruidores da fortificação construída pelos Romanos, dos muçulmanos, que tomaram o castelo no século VIII, e das tropas de Fernando I de Leão, tendo a fortificação ficado sob a responsabilidade do conde Sesnando Davides, após a conquista de Coimbra (1064). A povoação recebeu o seu primeiro foral em julho de 1137, concedido por D. Afonso Henriques, constituindo-se portanto num dos Municípios mais antigos do país. O seu castelo é, depois do Castelo de Montemor-o-Velho, o mais amplo e forte que atualmente nos resta da linha defensiva do Mondego.
Património - Castelo de Penela, Castelo de Germanelo, Igreja de S. Miguel, Pelourinho de Penela, Igreja da Misericórdia, Igreja de Santa Eufémia, Igreja Matriz de Podentes, Pelourinho de Podentes, Igreja Matriz do Rabaçal, Villa Romana do Rabaçal, Convento de Santo António, Igreja Matriz da Cumieira, Igreja Matriz do Espinhal, Aldeias Típicas, entre outros.
Em seguida, passámos por Espinhal, uma das freguesias do concelho de Penela. Esta freguesia ocupou um lugar de destaque na História de Portugal, onde encontramos diversas referências, sobretudo devido à importância da estrada que por ali passava fazendo a ligação norte-sul. Desde o século XVI que o Espinhal se encontra ligado a atividades como a fundição do ferro e do cobre e do fabrico do papel.
Atividades estas que desempenharam um papel determinante no desenvolvimento da freguesia. O Espinhal tem também algo para contar no que se refere à passagem das tropas francesas e portuguesas pela vila durante as Invasões Francesas no séc. XIX. A importância desta vila é facilmente comprovada pela existência de várias famílias nobres e das suas residências senhoriais.
Visitámos um dos edifícios mais importantes da freguesia do Espinhal, a Igreja Matriz datada do séc. XVI, a qual se destaca pela sua arquitetura e pela sua escultura.

A hora do almoço estava a aproximar-se e por isso o nosso passeio foi direcionado para o Museu da Chanfana. O Restaurante Museu da Chanfana é uma merecida homenagem à gastronomia tradicional assente na carne de cabra velha, de porco e ainda na caça e pesca. É conhecida Miranda do Corvo como Capital e Berço da Chanfana.
O Museu da Chanfana aparece associado a um conjunto de factos históricos, práticas ancestrais e artes e ofícios artesanais. O aproveitamento integral da cabra reflete a pobreza, ruralidade e a pastorícia da região.
Pratos como a Chanfana, Negalhos e Sopa de Casamento confecionados seguindo a receita genuína e os métodos mais tradicionais, são algumas das experiências gustativas disponíveis. No Restaurante, museu vivo da gastronomia regional, é dada grande importância aos pratos tradicionais de carne de porco como o sarrabulho, o bucho e os enchidos.
Desta apetecida ementa foi escolhida pelo nosso organizador Tó Simões, os seguintes pratos principais:
- Sopa de Casamento: era tradição, no dia seguinte ao casamento, servir o almoço aos convidados. Como nas caçoilas já só havia molho e restos de Chanfana aproveitavam as sobras para fazer a Sopa de Casamento. Para a sopa utiliza-se o pão alternando em camadas com a couve da época, previamente cozida. Rega-se com o molho de chanfana bem aquecido e enfeita-se com os restantes pedaços de carne.  Tal como a chanfana, este prato é cozinhado em recipiente de barro, para depois ir ao forno apurar. Estava uma delícia.
- Chanfana: Miranda do Corvo é berço da chanfana. Crê-se que tenha nascido com as monjas do Mosteiro de Santa Maria de Semide, fundado no Séc XII. A sua difusão foi favorecida pelo facto do Santuário ao Divino Senhor da Serra ser local de peregrinação de toda a região centro, tendo perdido a sua importância no Séc. XX devido ao surgimento de Fátima.
É um prato ligado à vida agro pastoril. A cabra era utilizada para produzir leite e para gerar novos animais. Os cabritos, desnecessários aos rebanhos constituídos por bodes com harém de cabras, eram abatidos e utilizados como manjar dos nobres e famílias ricas. Chegadas ao fim da vida útil as cabras velhas eram cozinhadas nos fornos de lenha também utilizados para o pão e/ou broa. A utilização do vinho garante não só o seu excelente sabor como contribui, junto com a gordura do assado, para facilitar a conservação da chanfana, nas caves do Mosteiro ou nos locais mais frescos e escuros de cada casa. Julga-se que o facto da freguesia de Lamas ser local privilegiado de produção de vinho tenha facilitado o nascimento da Chanfana, também favorecido por Miranda ser terra de oleiros, fabricantes das caçoilas. A carne de cabra é cortada às postas, colocada com os temperos a marinar nas caçoilas e coberta de vinho. A chanfana é prato obrigatório nos dias de festa e imprescindível nas ementas dos casamentos.
- Bacalhau em crosta de broa de milho, para alguns companheiros, de entre os quais para mim e para a minha esposa.
- Nabada foi uma das sobremesas que alguns experimentaram. É um doce conventual originário do Mosteiro de Santa Maria de Semide, Miranda do Corvo. O Mosteiro de Semide, edificado na primeira metade do século XII e com Carta de Couto passada por D. Afonso Henriques em 1154, albergou monges durante três décadas e passou a convento até 1896, data de afastamento da última freira da Ordem Beneditina. A Nabada era servida em recipiente de barro feito nas olarias da região. Miranda do Corvo é considerado «Museu vivo da cerâmica do barro vermelho» com artesanato e indústria de olaria existente desde a Idade Média. O Convento de Semide é conhecido por ter popularizado a receita da Chanfana, Negalhos e Sopa de Casamento, receitas que permitem o aproveitamento integral da cabra velha.
Após este almoço que estava cinco estrelas e agradou a todos os companheiros de viagem, fizemos então a visita ao Parque Biológico da Serra da Lousã está nas proximidades da vila de Miranda, situado na Quinta da Paiva, é uma proposta multifacetada na oferta turística associando a educação ambiental ao enaltecimento de valores e tradições culturais da região. Possui 12 hectares, sendo 7 de área florestal e 5 de área agrícola e social. Dos 12 hectares, apenas 5 hectares são visitáveis pelo público. O Parque Biológico da Serra da Lousã integra um Centro de Informação / Bilheteira, Parque de Vida Selvagem, Quinta Pedagógica, Labirinto de Árvores de Fruto, Roseiral, Centro Hípico, Museu Vivo de Artes e Ofícios Tradicionais com Loja de Artesanato, Museu da Tanoaria e Restaurante Museu da Chanfana.





Geologicamente a Quinta da Paiva é predominantemente formada por arenitos, conglomerados, xistos e grauvaques e constituída por solos com pouca profundidade, denominados cambissolos, que se encontram ainda em processo de desenvolvimento, apresentando uma fertilidade natural mediana. A sua flora reúne um conjunto de 88 espécies, entre árvores, arbustos e herbáceas. De salientar a vegetação ribeirinha, nomeadamente a presença de amieiros, salgueiros e freixos. A Quinta foi palco de uma economia agro-pastoril que motivou, durante séculos, o modo de vida das populações desta região, com estruturas representativas dessa vida comunitária, nomeadamente caminhos vicinais, muros de pedra xistosa, casa do caseiro, rio, açude, levada, moinho de água e engenhos de rega. Neste sentido, o espaço contempla um ecomuseu onde exemplares de engenharia agrícola, hidráulica e eólica poderão funcionar como aulas vivas de etnofísica e etnomatemática, ligando a tecnologia à história. 
Esta visita foi muito interessante e rica em conhecimentos: houve um pouco de diversão, aprofundamento da biofilia, podemos apreciar a natureza e aprender a valorizar o ambiente.

No Santuário do Divino Senhor da Serra em Miranda do Corvo, foi a nossa próxima paragem. A capela primitiva foi construída nos finais do séc. XVII, sendo depois reformada nos sécs. XIX e XX. Destaque para os retábulos colaterais e a imagem do Cristo, comprados. As origens do Santuário estão intimamente relacionadas com a imagem do Santo Cristo colocada onde hoje se ergue a cruz da serra. Foi construída pelas freiras de Semide uma capelinha, mandada fazer entre 1653 e 1663, a qual serviu ainda para albergar a imagem do Santo Cristo, cada vez mais visitada devido à fama crescente de milagres.
Foi esta afluência de romeiros conjugada com o aumento do número de habitantes que impôs a construção do atual Santuário. A capela é uma obra produto das diversas atividades artesanais que se desenvolveram em Coimbra, no fim do século XIX e no princípio do XX, em redor da Escola Livre das Artes do Desenho. O traçado é, ele próprio, uma fusão de elementos neogóticos e românicos -, com predomínio destes, inspirados nos monumentos de Coimbra. Tem uma só nave. A torre ergue-se a meio da frontaria, rasgando-se na base o portal e rematando ela em pirâmide. A capela-mor, poligonal, é de tipo nitidamente românico. Lá dentro podemos apreciar o altar-mor dourado que foi executado pelos alunos da antiga Escola Industrial Brotero em Coimbra sob orientação de João Machado, tal como os belíssimos vitrais, estes sob a direção do prof. Lapierre. Outros pormenores de enorme interesse são os azulejos que revestem as paredes, os quais constituem representações de cenas da vida de Jesus, os altares laterais, provenientes Capela da Misericórdia de Coimbra, a pintura do Tecto, obra do pintor Eliseu de Coimbra e o púlpito de pau preto, que constitui uma obra do século XVII, originário da Sé Velha de Coimbra.
Infelizmente não tivemos a oportunidade de visitar este santuário, pois estava fechado e a pessoa que nos poderia abrir a porta não se encontrava presente. Fica para uma próxima vez.

Como ainda tínhamos algum tempo e um dos nossos companheiros é natura da povoação de Ançã, mostrou vontade de nos dar a conhecer esta localidade. Foi para lá que rumámos para uma pequena visita já tardia pelo adiantar do dia que já escurecia. Foi uma pena! Deixou-nos a todos com água na boca e com vontade de lá voltar noutra altura.
Ançã é uma vila do concelho de Cantanhede, foi elevada a vila em 12 de julho de 2001. O nome Ançã é de origem romana, teriam sido os monges italianos a atribuir-lhe esse nome devido à abundância de água e de caça. O nome de Ançã proveio do italiano abbondanza que etimologicamente deriva do termo latino Anzana cuja declinação passou pelas fases de Anzam, Anzaa, até à sua grafia actual.

A hora estava a aproximar-se para regressarmos a casa. Ainda parámos em Tentúgal, na Pousadinha, onde se petiscou e também levar para casa, algumas das iguarias que ali comercializam.

Pelas 21H15, chegámos a Tavarede.

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